São Paulo terá segunda linha com ônibus especiais para pessoas com deficiência a partir de outubro
São Paulo terá segunda linha com ônibus especiais para pessoas com deficiência a partir de outubro
Linha serve 16 estabelecimentos de saúde e atendimento a pessoas com deficiência na Zona Sul
Fonte: Diário do Transporte
A região da Vila Mariana, que concentra diversos estabelecimentos de saúde e atendimento a pessoas com deficiência, deve contar a partir de outubro com mini-ônibus especiais acessíveis, do mesmo modelo dos que já atendem a ligação entre o Metrô Jabaquara e o Centro Paralímpico, também na Zona Sul.
O secretário municipal da Pessoa com Deficiência, Cid Torquato, e técnicos da SPTrans fizeram nesta quinta-feira, 30 de agosto de 2018, uma viagem experimental, que teve cobertura exclusiva do Diário do Transporte.
A linha já existe. É a 476L-10, uma circular entre o Metrô Vila Mariana e o Lar Escola São Francisco, operada atualmente por ônibus comuns da empresa MobiBrasil.
Os mini-ônibus que serão colocados no trajeto têm configurações especiais. Há espaço para quatro cadeiras de rodas.
Os veículos contam com validadores para pagamento de passagem, mas não possuem catracas. Os coletivos ainda têm suspensão a ar e sistema de “ajoelhamento”, ou seja, quando param no ponto, se rebaixam para facilitar o acesso que é feito por meio de rampas.
Além disso, os veículos têm capacidade para 17 passageiros sentados e até 18 em pé.
Os ônibus têm piso baixo e são do modelo Volare Access, com mecânica Agrale.
Confira as imagens da entrega do veículo:
Entre os estabelecimentos atendidos pela linha, estão o Lar Escola São Francisco, Hospital Edmundo Vasconcelos, Hospital do Rim, Hospital São Paulo, Centro de Referência Tratamento de DST e AIDS, Hemocentro Regional, Hospital São Paulo.
A linha vai atender também a estação AACD – Servidor, da linha 5-Lilás do Metrô, que será inaugurada nesta sexta-feira.
Com os novos veículos, a linha vai ser prolongada em cerca de 900 metros para atender a mais lugares como a futura UPA Vila Mariana, a Fundação Dorina Nowill e o Ambulatório de Medicina Esportiva.
O secretário Cid Torquato aprovou o trajeto e o veículo. Ele acredita que os ônibus devem aumentar a demanda da linha que hoje é baixa.
“Hoje, ela atende 70 pessoas por mês, mais ou menos, [em uma média diária]. É uma linha que está, de fato, subutilizada, porque hoje o equipamento é equivocado para a região. Ele é menos ágil, ele tem piso alto, elevador, então, agora a gente está introduzindo essa nova tecnologia, que já funciona na linha Jabaquara até o Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro e vamos começar a estudar outros circulares que têm em regiões de equipamentos que atendam quantidade grande de pessoas com deficiência, para potenciais novas rotas com esse equipamento”, disse Torquato.
O vereador José Police Neto, que também esteve na viagem, acredita que os subprefeitos e os demais vereadores devem identificar em suas regiões a necessidade de mais ônibus deste tipo, já que segundo ele, há ainda muitas brechas neste tipo de atendimento.
“Aqui está sendo proposta uma solução muito simples. Você já tinha uma linha circular histórica desde 2000 lá na Vila Mariana. Seja na periferia, que você já tem a população que muitas vezes não consegue sair de casa porque não tem uma oportunidade acessível ali, o vereador tem que estar totalmente envolvido com ela para, ao reconhecer a demanda, chamar a CET, chamar a SPTrans, a secretária de transporte, o secretário Cid e toda sua equipe para conseguir, da mesma forma que foi feito aqui, alinhar os interesses e propor soluções. Aqui está sendo proposta uma solução muito simples. Você já tinha uma linha circular histórica desde 2000 na Vila Mariana. Essa linha está sendo qualificada e vai receber um novo equipamento, um novo carro que vai dar muito mais conforto, segurança, uma atenção muito melhor ao cidadão paulistano”, afirmou o vereador.
Serão dois mini-ônibus que já foram encomendados e serão entregues pela fabricante em outubro. A operação ficará por conta da MobiBrasil.
PLANO DE CALÇADAS
O secretário Cid Torquato também disse ao Diário do Transporte que em setembro, o prefeito Bruno Covas deve apresentar um novo plano de calçadas para a cidade.
“O prefeito Bruno Covas, no momento, está avaliando algumas alternativas de políticas para calçadas para serem anunciadas em breve. Estamos trabalhando para que esse grande plano municipal de calçadas seja anunciado em setembro, que é o mês da mobilidade urbana e que tem o Dia Nacional da Pessoa Com Deficiência. É um mês emblemático para essas questões relativas a trânsito e mobilidade”, disse o secretário.
Segundo Cid Torquato, ônibus acessíveis, como apresentado, são importantes, mas é fundamental que as pessoas tenham condições de chegar aos veículos, o que só é possível com calçadas adequadas.
Na ida ao evento, a reportagem constatou que até a poucos metros da prefeitura, na região central, o calçamento apresentava problemas.
Na praça do Patriarca, perto da saída da galeria Prestes Maia, a grade de um ralo de escoamento de água estava levantado por causa de defeitos no piso.
No momento que a reportagem esteve no local, quase um pessoa com deficiência visual tropeça na grade do ralo.
Confira as imagens:
Confira na íntegra a entrevista com o secretário Cid Torquato:
Qual a avaliação que o senhor faz inicialmente do itinerário. Necessitava desse tipo de oferta de veículo?
Acreditamos que sim. Hoje já existe essa linha, que é muito pouco demandada, com equipamento antigo, com ônibus convencional de piso alto, elevador e com uma hora de espera para cada partida. É uma linha que hoje o usuário da região pode contar pouco com ela. Nossa ideia é ter um ônibus presente, o tempo todo circulando para atender exatamente esse munícipe. São as pequenas viagens, entre um equipamento e outro, entre a estação de metrô e os equipamentos, está disponível para a pessoa com deficiência, para o cadeirante. O ônibus tem lugar para quatro cadeiras de rodas, mas também nos imaginamos uma demanda potencial grande do profissional da saúde. É uma região que tem muita gente e vai ser conveniente pegar esse ônibus para pequenos trajetos dentro da linha.
Quer dizer, a estimativa é de aumentar o número de passageiros e tornar a linha mais demandada por profissionais de saúde e para a população em geral, certo?
Exatamente. Hoje, ela atende 70 pessoas por mês, mais ou menos. É uma linha que está, de fato, subutilizada, porque hoje o equipamento é equivocado para a região. Ele é menos ágil, ele tem piso alto, elevador, então, agora a gente está introduzindo essa nova tecnologia, que já funciona na linha Jabaquara até o Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro e vamos começar a estudar outros circulares que têm em regiões de equipamentos que atendam quantidade grande de pessoas com deficiência, para potenciais novas rotas com esse equipamento.
A gente falou do Hospital AACD Servidor e nesta sexta-feira será entregue em operação de testes a estação do metrô. Essa linha também vai acabar alimentando o metrô e sendo alimentada, não é? O nascimento dessa linha, daqui a alguns meses, junto com o nascimento do metrô, vai calhar muito bem, não?
Essa reformulação da linha deve ser anunciada e deve ecomecar a acontecer de fato assim que a montadora entregar o veículo. Estamos torcendo para que comece ainda em outubro a operar. A gente acredita que possa ter uma demanda maior, vai ser um laboratório. Hoje, ela atende muito pouca gente. Então, eu acredito que uma linha dessa, com novo equipamento, é um laboratório que serve para a gente repensar inclusive outras situações, por exemplo. Foi introduzido na Avenida Jabaquara os micro-ônibus, não têm catraca. Você tem que marcar passagem no validador do cartão. Também vai ser uma nova proposta de operação frente ao usuário, que vai ter que se adequar no sentido de ser educado, fazer a validação mesmo sem a catraca. Está certo que a linha vem com um motorista e um ajudante, um cobrador que vai ter muito mais a função de ajudar quem precisa, idosos, gestantes e pessoas com deficiência, e também, obviamente, ver se a pessoa faz a validação ou não.
O senhor, andando neste ônibus, está se sentindo confortável?
Super. É um ônibus que trepida muito pouco. É muito confortável. Estou até querendo tirar um cochilo aqui.
A gente vê essas tecnologias, outras que devem vir, mas tem a questão de como chegar aos ônibus, as calçadas. Como a secretaria tem contribuído para melhorar o que os especialistas chamam de caminhabilidade, ou seja, chegar até o ônibus ou metrô?
Essa região da Vila Clementino é uma região onde as calçadas estão bastante razoáveis. Em uma parte grande da região, as calçadas foram feitas no passado. Tem coisas para serem feitas, mas não é uma das piores regiões da cidade, então ela vai operar em um bairro que está razoável. Mas a gente não quer essa coisa razoável nem na Vila Mariana e nem em lugar nenhum. A gente quer que as calçadas de São Paulo estejam à altura da importância da cidade. Calçada algo tão importante, estratégico, tão básico no dia a dia de todo mundo. O prefeito Bruno Covas, no momento, está avaliando algumas alternativas de políticas para calçadas para serem anunciadas em breve. Estamos trabalhando para que esse grande plano municipal de calçadas seja anunciado em setembro, que é o mês da mobilidade urbana e que tem o Dia Nacional da Pessoa Com Deficiência. É um mês emblemático para essas questões relativas a trânsito e mobilidade. Estamos trabalhando para que esse grande programa que vai endereçar de forma estratégica as calçadas de São Paulo seja anunciado ainda em outubro, para a alegria da população de São Paulo como um todo, que está ansiosa para que a Prefeitura apresente sua visão de como trabalhar a questão das calçadas.
Confira a entrevista com o vereador José Police Neto:
Qual a sua impressão desse trajeto proposto, o senhor acha que realmente era uma falha, até então no sistema, não ter um atendimento de acessibilidade em um local que tem tantos equipamentos de saúde?
Acho que fica claro no dia de hoje o potencial desta linha circular, que atende à saúde, mas também as pessoas com deficiência. Portanto, o carro que virá a operar nessa linha já vem projetado para carregar quatro cadeirantes, também tem 17 vagas para passageiros sentados. É um carro bastante rebaixado, portanto é bastante confortável para o acesso. O que é fundamental é que ele liga três estações do metrô, sendo duas em operação e uma que começa a operar a partir desta sexta-feira, a AACD Servidor, mais dez equipamentos de saúde que atendem pessoas com deficiência. São grupos absolutamente importantes, que estão espalhados por ali. Você ter uma linha circular que respeita este acesso, essa interseção do metrô que tem essas linhas importantes e distribui de maneira muito organizada em um território da Vila Mariana, com inteligência, essa demanda que a gente tem, me parece uma resposta adequada e a gente tem que reconhecer aqui o esforço do secretário Cid, que foi incansável ao longo dos últimos meses para juntar na mesma viagem o presidente da SPTrans, toda a equipe de planejamento dele, o prefeito regional e a equipe que o Cid tem ao lado dele na secretaria. Uma expectativa que a gente tem é que em outubro a linha comece a funcionar. Tem um esforço grande porque esses carros vieram a ser produzidos para essa linha, então você teve que ativar o mercado produtor desse carro, mas o que é fundamental aqui é entender esse processo da mobilidade total. Está se oferecendo formas para a total autonomia da pessoa com deficiência, ele vai poder sair da casa dele, pegar o metrô, desembarcar, entrar em um carro acessível para ele e desembarcar na frente da instituição ou que ele estuda ou que faz um trabalho de recuperação ou fisioterapia. É fundamental entender que essa ligação dos modais do metrô na Linha Lilás aos outros ônibus na Vila Mariana dá autonomia.
Existem outras ligações carentes desse equipamento. Inclusive há um processo de identificação dessas ligações. Como o legislativo pode auxiliar na identificação dessas linhas e no pedido de planejamentos e estudos para essas brechas que ainda existem e poderiam ser atendidas com ônibus iguais a este?
Existem duas questões que me parecem obrigatórias à administração local. Os prefeitos regionais que voltaram a ser subprefeitos têm uma obrigação no seu radar, que é estudar exatamente o que ele tem de equipamentos públicos e privados sociais e de saúde no seu território, as escolas que recepcionam pessoas com deficiência e conseguir sobrepor essas necessidades. Se o prefeito regional tem esse vínculo com a população, reconhece as organizações não governamentais que estão no bairro, que fazem atendimento a pessoas com deficiência, se conseguem reconhecer esses roteiros, poder trabalhar em linhas circulares que promovam essa integração e, portanto, vão promover saúde, é absolutamente fundamental. Se você tem passageiro, você pode ter o ônibus, porque o ônibus é remunerado pelo passageiro e é obrigação do setor público oferecer para a demanda que está apresentada. Portanto, é uma questão de identificação de demanda. Eu saio daqui com uma tarefa. Quero identificar o sistema Anhanguera, no distrito Perus, no Jaguaré, onde estão as conexões que podem ser feitas com linhas circulares como essa, integrando o sistema de educação ao sistema de saúde, às vezes até ao sistema de cultura, dando oportunidade a aqueles que hoje não tem o sistema oferecido para eles. Um sistema inteligente, rápido e que de fato promova a autonomia para todos.
Os vereadores têm suas bases também, alguns com destaque na Zona Sul, Zona Oeste, enfim. Os seus colegas estão atentos a isso? Como é essa conversa com as bases?
É muito menos uma conversa, mas uma obrigação. O vereador que não reconhece que tem que estar no seu território, como eu fiz hoje na Vila Mariana, identificando as potencialidades e necessidades que o cidadão tem. Na Vila Mariana, a gente tem um potencial gigantesco, que é oferecer atendimento de saúde para a cidade inteira. Não faz sentido a gente não ter uma oferta regular para a cidade inteira de sistema estruturado, organizado de maneira inteligente. Seja na Vila Mariana, onde você tem uma oferta de organizações que trabalham com pessoas com deficiência, seja na periferia, que você tem a população que muitas vezes não consegue sair de casa porque não tem uma oportunidade acessível ali, o vereador tem que estar absolutamente envolvido com ela para, ao reconhecer a demanda, chamar a CET, a SPTrans, a Secretaria de Transportes, o secretário Cid e toda sua equipe para conseguir, da mesma forma que foi feito aqui, alinhar os interesses e propor soluções.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Jessica Marques, para o Diário do Transporte