Projeto busca diversificar eventos de mobilidade e transporte com presença feminina
Com assédios em alta e poucas mulheres em eventos e na tomada de decisão, a equidade de gênero se mostra um desafio às empresas, operadores e governos
A construção de sociedades mais justas e sustentáveis envolve o combate à desigualdade de gênero. Quando falamos de mobilidade urbana, percebemos um grande abismo entre quem administra e faz políticas e as pessoas que mais utilizam o transporte público: mulheres, negras e de baixa renda.
Além de serem o principal público, são as mais vulnerabilizadas, com casos de assédio ganhando cada vez mais notoriedade. Só em Fortaleza, a cada três horas uma mulher é assediada sexualmente, dados que seguem na mesma linha em outros cantos do país.
Com isso em mente, nasce o projeto Direção Feminina, que busca catalogar e disponibilizar à gestores e curadores de eventos em mobilidade e transportes profissionais mulheres capazes de abordar qualquer assunto, sempre sob a ótica única do feminino. A iniciativa é do Agora é Simples, portal de conteúdo voltado à inovação na mobilidade e da ONBOARD, startup criadora do site.
O projeto surgiu impulsionado pela“Carta Compromisso sobre Equidade de Gênero na Mobilidade Urbana”, ação da sociedade civil que reúne empresas, coletivos, organizações e pessoas físicas em pautas para alcançarmos cidades e transportes mais justos, igualitários e seguros a todos. A demanda nº 10 da carta assume a busca sobre a paridade de gênero e equidade racial em todos os eventos, painéis e/ou seminários sobre mobilidade urbana e urbanismo, alvo do projeto Direção Feminina.
Para construir uma mobilidade urbana mais inclusiva e que atenda às necessidades das mulheres é necessário ouvi-las e empoderá-las na tomada de decisão, e não apenas endereçar políticas públicas.
Interessados em diversificar eventos, pesquisas e espaços de diálogo e tomada de decisão podem acessar a página do portal dedicada ao projeto. Por lá, mulheres que atuam na área de mobilidade e transportes também podem se cadastrar para a rede.
Acesse: https://www.agoraesimples.com.br/direcao-feminina/
O cenário em São Paulo
Cerca de 12% dos 3.090 casos de importunação sexual registrados entre 2018 e 2019 no Estado de São Paulo foram no transporte público. A lei aprovada no estado tipifica o ato libidinoso contra alguém sem consentimento e tem colaborado para o registro de casos, mas ainda encontra desafios como a divulgação ampla da lei e o rompimento de silenciamentos, que ainda ocorrem.
Em meio aos desafios, uma boa notícia no transporte: 53% das mulheres confiam no trabalho da SPTrans, que administra o Bilhete Único e o sistema de ônibus na cidade, segundo dados da Rede Nossa São Paulo. Entretanto, ainda falta destaque de mulheres na tomada de decisão em companhias estratégicas no transporte.
Para continuar no exemplo da SPTrans, a companhia conta com 25% do quadro de funcionários representado por mulheres, das quais 2% são gerentes e 1% são superintendentes.
Além disso, 2% são motoristas mulheres no Sistema Municipal de Transporte. Dentre cobradores, cerca de 20% são mulheres e, referente aos fiscais de transporte, as mulheres também compreendem 20% do total.