SPurbanuss no 20º congresso da ANTP

26/06/2015

SPurbanuss defende novos caminhos para a gestão do transporte por ônibus, durante congresso da ANTP
Os avanços de uma administração mais eficiente farão com que as empresas operadoras do sistema tornem-se mais competitivas, para enfrentar um cenário de concorrência mais acirrada.

A necessidade e oportunidade de uma nova visão empresarial no transporte por ônibus em São Paulo. Essa foi a bandeira levantada pelo SPUrbanuss – Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo, em debate no 20º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito, realizado pela ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos, entre os dias 23 e 25 de junho, em Santos, litoral paulista. Durante a sessão especial “Nova Visão Empresarial no Sistema de Ônibus da Região Metropolitana de São Paulo”, Francisco Christovam, presidente do SPUrbanuss, elencou três pilares fundamentais para uma gestão mais eficiente da operação de transporte: hardware, software e peopleware. Na prática, significa mais investimento em infraestrutura, em tecnologia e na formação das pessoas.
    
De acordo com Christovam, é preciso planejar a infraestrutura geral, avançar em sistemas de controle da operação e programar as linhas para cada dia do ano. “Uma segunda-feira é diferente da sexta-feira, que é diferente da véspera de feriado, de um fim de semana e da volta de um feriado. Não dá para ter a mesma programação da operação para todos os dias do ano e isso precisa virar rotina em todas as prestadoras de serviço”, afirmou.


O presidente do SPUrbanuss também defendeu, como prioridade, uma maior valorização dos trabalhadores e dos usuários do sistema. “Os operadores dirigem veículos que custam cerca de R$ 1 milhão; mas, não têm estímulos e não se enxergam “comandantes”, como acontece com os pilotos de avião. É importante fazer com que tenham orgulho do trabalho que realizam. Já o usuário precisa de um pouco mais de civilidade, aprender a valorizar o ônibus que o leva e traz. É muito comum ver veículos danificados ou vandalizados pelos próprios usuários. A rede de transporte também precisa ser legível para quem dela se utiliza e perfeitamente compreendida por qualquer pessoa”, alertou. 
Uma gestão mais eficiente fará com que as empresas sejam mais competitivas diante da concorrência, que deverá tornar-se cada vez mais acirrada. “Operadoras que precisavam se reinventar após 50 ou 60 anos de existência, hoje, pela velocidade das mudanças tecnológicas e de gestão empresarial, devem fazê-lo em menos de 15 anos”, analisou o presidente do Sindicato.

Outro motivo para adotar, com urgência, uma nova visão empresarial, de acordo com Christovam, é a imposição do poder público para não haver mais consórcios de empresas, como forma de organização empresarial. Na nova licitação, que será realizada pela Prefeitura de São Paulo, será exigida a formação de SPE (Sociedade de Propósito Específico), o que mudará radicalmente a maneira como as empresas são administradas. Manter as empresas atuando de forma individual não será mais possível e elas terão que se organizar, sob novos modelos de gestão, na composição das novas sociedades empresariais.

Com duração de 20 anos, os futuros contratos, muito provavelmente, deverão provocar a fusão de algumas empresas, a cisão de outras e até a formação de novas sociedades. “Antes cabia apenas ao poder público todo o planejamento do transporte por ônibus; mas, hoje, é mais do que necessário que as empresas também participem do planejamento da rede de transporte e do controle da operação dos veículos.”

O Sindicato não teme a chegada de empresas de fora do País nesta nova licitação. Mas, segundo Christovam, “aventureiros” poderão trazer graves reveses ao transporte urbano por ônibus. “O transporte urbano, em São Paulo, é um dos mais complexos do mundo. Empresas sem a nossa experiência poderão causar um verdadeiro caos na cidade”, disse Christovam.

Visão compartilhada

Mediada pelo jornalista Leão Serva, especialista no setor e autor do livro “Como Viver em SP Sem Carro”, a sessão especial sobre a nova visão empresarial também contou com a participação do presidente da recém-criada FETPESP – Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de São Paulo, Gerson Orger Fonseca, o presidente do CMT –  Consórcio Metropolitano de Transportes, Luiz Augusto Saraiva, e o jovem empresário, Marcio Saraiva, do Grupo NSO, formado pelas empresas Auto Viação Urubupungá, Santa Brígida e Caieiras.

Para Leão Serva, o assunto é uma das questões mais importantes do milênio.  “O transporte é o bode na sala de todas as metrópoles. Precisamos incentivar que as pessoas deixem os automóveis em casa, saiam do trânsito e passem a usar o transporte público”.

Márcio Saraiva, do Grupo NSO, acrescentou que uma nova visão empresarial não pode ser mais somente de operador. Deve abranger também a visão de planejador do sistema. “Se quem já estiver no sistema puder se reinventar é melhor, pois se aproveita a experiência adquirida em décadas de operação. Mas não basta planejar, há que se ter um propósito mais abrangente.”

Para Márcio, as manifestações de 2013 mudaram o cenário para sempre e vale lembrar que tudo começou por causa do transporte público. “Tanto o poder público quanto o setor empresarial precisam enxergar o sistema como um todo. Já passou da hora de entender que mobilidade é a palavra de ordem do século”, comentou.

Luiz Augusto Saraiva, presidente do CMT, alertou para questões práticas das operadoras. De acordo com ele, as empresas intermunicipais estão descapitalizadas. “Recolhemos cerca de 4% da receita para a EMTU – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo, pelo gerenciamento do serviço, e esperamos que, na próxima licitação do setor intermunicipal, possamos ter tarifas mais acessíveis à população e que a EMTU possa destinar subsídios para cobrir as gratuidades, entre elas as dos idosos, beneficiados com a idade mínima reduzida para 60 anos”.

Segundo Gerson Orger Fonseca, presidente da FETPESP, a crise econômica do País já causa queda significativa de demanda dos transportes coletivos, desde março. “O desemprego e a desconfiança no futuro diminuíram a demanda pelo transporte por ônibus em 5%”, informou. “Os três interessados, governo, iniciativa privada e usuário, precisam ter uma conversa mais profunda para encontrar soluções efetivas”, finalizou Gerson. 
Foto: Studio Barbieri&Buono
Assessoria de Comunicação