Especialistas debatem caminhos para atrair mais passageiros para o sistema

13/06/2024

Fonte: O ESTADO DE S. PAULO

Tarifas altas, falta de infraestrutura e até ruas com calçadas quebradas são alguns dos desafios que os usuários enfrentam

Como tornar o transporte público atraente à população foi a pergunta que permeou o painel "Desafios do transporte público", mediado por Victor Vieira, editor de Metrópole do Estadão. Clarisse Cunha Linke, mestre pela London School of Economics and Political Science (LSE) e diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP Brasil), disse que a chave é a integração.

Mas uma integração em três frentes: a tarifária, para que os usuários, especialmente os que vivem longe do centro, não sejam onerados além de suas condições; a operacional, para que o processo de baldeação, por exemplo, não gere uma falta de encadeamento da viagem; a de infraestrutura, pensando em viagens não apenas de trabalhos produtivos, mas também nas atividades e viagens não remunerados, de ida ao médico, de visitas a parentes, de busca pelo lazer.

Para tanto, ela propôs que tudo fosse interligado de forma única, nos moldes das cidades europeias, em que as pessoas se transportam de um modal para o outro como um feixe contínuo. É um cenário no qual, no final das contas, ninguém sabe quem detém ou não aquela concessão e não há tabu, por exemplo, para se rever os contratos, caso as empresas não estejam entregando de fato o que prometeram. "Precisamos de uma integração institucional", disse, "à revelia de políticas e interesses intocáveis."

ESPAÇO DEMAIS AOS CARROS.

Para Sergio Avelleda, consultor em Mobilidade Urbana e ex-secretário municipal de Mobilidade e Transportes de São Paulo entre 2017 e 2018, há que se prestar atenção à micromobilidade, que trate de soluções que atendam aos deslocamentos curtos da população.

"Costumo dizer que quem usa o transporte público não começa a ser esse usuário quando chega ao ponto de ônibus ou quando embarca na estação de metrô ou trem, mas quando amarra o tênis em casa e decide pegar um transporte público", afirmou.

O cuidado com a rede que

"Precisamos de uma integração institucional à revelia de políticas e interesses intocáveis"

Clarisse Cunha Linke, diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP Brasil)

conecta casas e empregos lhe parece fundamental para o funcionamento e a atratividade do transporte público. Nesse contexto, calçadas malfeitas, negligenciadas, lhe causam indignação. "Temos 17 mil km de vias em São Paulo e 90% desse espaço é reservado para o automóvel", disse. "Dedicamos muito mais atenção à infraestrutura do carro do que à das calçadas, apesar de termos muito mais gente usando as vias próprias para pedestres".

No seu entender, criar um ambiente de micromobilidade com calçadas atrativas e ruas acolhedoras contribui não só para o maior uso do transporte público, como também para uma maior segurança pública.

REDUÇÃO DE PASSAGEIROS.

Manoel Marcos Botelho, secretário executivo de Transportes Metropolitanos do Governo do Estado de São Paulo, entende que a perda considerável de passageiros no pós-pandemia, de 10 milhões de pessoas por dia para 8 milhões diários, e a inflação de custos também nesse período implicaram sérios efeitos econômicos nas empresas que operam com o transporte público, que não foram repassados para a tarifa.

A fim de tentar debelar essa questão econômica, ele lembra que o governo constituiu uma subsecretaria para cuidar especificamente das concessões de parcerias, sabendo da escassez do orçamento do Estado e da perspectiva de trazer o setor privado para acelerar o processo de expansão da malha. "Várias propostas estão em estudo no sentido de oferecer uma ampla carteira de investimentos em mobilidade e transporte por meio de projetos bem estruturados economicamente, rentáveis, para conseguir essa atratividade num tempo menor", afirmou durante o painel.

Joubert Fortes Flores Filho, presidente do Conselho Administrativo da Associação Nacional dos Transportadores e Passageiros sobre Trilhos (ANTPTrilhos), entidade civil sem fins lucrativos, lembrou que o transporte ferroviário, um dos modais mais requisitados nesse processo de integração, já teve destaque e importância fundamental na cultura do transporte nacional. E sua fala, Joubert recuperou os tempos áureos dos bondes e dos trens intercidades no País.

"A gente acreditou que o carro seria mais rápido, mas não tem carro para todo mundo", disse. Sem saudosismo, entende que o momento é positivo para esse modal secular: "O governo federal tem interesse e está voltando a pensar outra vez no sistema ferroviário", afirmou. "Apesar de ser mais demorado, se for pensar quanto custa um passageiro transportado dessa forma, vai ser possível perceber que vale o investimento."l

"O governo federal tem interesse e está voltando a pensar outra vez no sistema ferroviário" Joubert Flores Filho, presidente do Conselho Administrativo da ANTPTrilhos

Recorrer a um helicóptero para escapar do trânsito de São Paulo sempre foi visto como um privilégio restrito a um grupo limitado de pessoas. Uma iniciativa inovadora trouxe uma alternativa de alto padrão, no entanto, tornando a utilização de helicópteros uma possibilidade. Trata-se do serviço personalizado oferecido pela Revo, com operação lançada em agosto do ano passado, com valor a partir de R$ 2,5 mil por assento em rotas pré-definidas. Num modelo inédito no Brasil, é possível fazer a reserva para um assento, múltiplos assentos ou para a capacidade total da aeronave - que, dependendo do modelo, varia entre cinco e oito pessoas.

As rotas inicialmente estabelecidas pela Revo conectam Faria Lima ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, à Fazenda Boa Vista e ao litoral (Ilhabela e Juquehy). Mais recentemente, em maio, foram inaugurados trajetos que ligam Alphaville à Faria Lima e ao Aeroporto Internacional de Guarulhos. "Queremos oferecer a melhor experiência para os nossos clientes. O início da nossa operação em Alphaville veio para oferecer uma alternativa aos passageiros que desejam chegar ou sair da região, conhecida pela intensidade de trânsito, com o mais alto padrão de qualidade", afirma João Welsh, CEO da Revo.

A expansão das opções evidencia o sucesso obtido pela Revo logo no primeiro ano. "A operação de alto padrão oferecida pela Revo possui um alto índice de fidelização, acima de 90%. Isso demonstra que quem experimenta quer usar o serviço de novo", comemora Patrícia Dib, diretora de marketing da empresa.

Segurança e conforto

Uma das premissas do negócio é seguir os mais altos padrões de segurança. Todos os helicópteros são bimotores e dispõem de dupla tripulação - ou seja, há sempre dois pilotos a bordo. A empresa conta com o know-how de pertencer ao grupo multinacional de origem portuguesa Omni Helicopters International (OHI), controlador da Omni Táxi Aéreo (OTA), líder em transporte aéreo offshore na América Latina. Com mais de duas décadas de atuação no Brasil, o grupo nunca teve registro de acidente.

A Revo acompanha de perto as condições meteorológicas e, em caso de perspectiva de inadequação para voo no horário planejado, o cliente é avisado com antecedência e uma opção de transporte terrestre é viabilizada.

Outro atributo essencial do serviço oferecido pela Revo é o conforto. As reservas podem ser feitas facilmente pelo aplicativo, site, WhatsApp ou e-mail, canais que disponibilizam um atendimento preparado por concierges para prestar todas as informações necessárias.

O pacote inclui o transporte em carros executivos entre a residência ou o local de trabalho e um dos dois helipontos de partida - na Avenida Faria Lima e anexo ao Shopping Cidade Jardim. No caso da linha para o Aeroporto de Guarulhos, trajeto percorrido em apenas oito minutos, o transporte inclui a bagagem e o despacho no terminal.

Autor(a): MÔNICA MANIR